Melhores de 2013: Jogo do Ano

Melhores de 2013 Re: GamesEste artigo faz parte da série Melhores de 2013, com os games lançados este ano que este humilde blog considera que devem ser jogados por quem puder. Este ano, o blog volta a dividir os jogos em categorias, por pura falta de tempo de fazer resenhas para uma grande quantidade de jogos. Consulte a página Melhores de 2013 – Lista de categorias para ver as outras categorias já publicadas e o artigo Teaser: Melhores do ano? Toma 50 para começar para considerações gerais e uma pré-lista com 50 jogos de 2013.

E após alguns dias de hiato para resolver coisas e acertar mais jogatina – fiquem de olho no blog, tem console novo na área – é hora de finalmente chegar à categoria que mais importa: Jogo do Ano. E com direito a um Top 10 formal, na ordem, dessa vez. Achei que a quantidade de bons jogos de 2013 fez por merecer algo assim.

Capa de Tomb Raider (PC/PS3/X360)Antes de começar, eis uma lista de 10 jogos que quase entraram – efetivamente aqueles que ficaram nas posições 11 e 20. Parte deles poderia “subir” se já os tivesse terminado, enquanto outros apenas não conseguiram igualar o Top 10. Em ordem crescente mais ou menos “fechada”, eles são: Dragon’s Crown (PS3/Vita)Ni no Kuni: Wrath of the White Witch (PS3), Metal Gear Rising: Revengeance (PC/PS3/X360)Brothers: A Tale of Two Sons (PC/PSN [PS3]/XBLA)Saints Row IV (PC/PS3/X360), Bioshock Infinite (PC/PS3/X360), The Stanley Parable (PC), Assassin’s Creed IV: Black Flag (PC/PS3/PS4/WiiU/X360/X1), Fire Emblem: Awakening (3DS) e Tomb Raider (PC/PS3/PS4/X360/X1). Vale lembrar que no início dessa votação, ainda não tinha começado a jogar The Legend of Zelda: A Link Between Worlds (3DS) e Killzone: Shadow Fall (PS4). Só pra constar. 😉

E aí, já terminou de me xingar por ter deixado jogaços como BioshockFire Emblem, Assassin’s Creed IV e Tomb Raider de fora? Então siga adiante e veja quais foram meus 10 jogos prediletos de 2013 (pelo menos entre os que joguei ainda em 2013…).

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10. Tom Clancy’s Splinter Cell: Blacklist (PC/PS3/WiiU/X360)

Capa de Tom Clancy's Splinter Cell: Blacklist (PC/PS3/Wii U/X360)Foi complicado deixar pérolas como Tomb RaiderBioshock Infinite de fora e apostar em Blacklist, mas a verdade é que eu consigo ver problemas relativamente notáveis nesses dois jogos, enquanto o novo Splinter Cell é praticamente impecável. No caso de Bioshock Infinite, o tom um pouco panfletário-antiamericanista na parte inicial do jogo é irritante, e embora a jogabilidade esteja bem mais fluida do que os antecessores, ela perdeu um pouco da profundidade “tática” do primeiro Bioshock – dá para passar por quase o jogo inteiro com a mesma combinação de arma e Vigor, na verdade. Enquanto isso, Blacklist não apenas é igualmente o jogo mais fluido da série a que pertence, como recupera detalhes de jogabilidade que haviam sido descartados em Conviction. Já na comparação com Tomb Raider, a coisa começa mais simples: o multijogador dele é convencional e desnecessário, enquanto o de Blacklist é nada mais, nada menos do que o retorno de um dos modos mais queridos dos fãs, o Spies vs. Mercs – e algo sem muito paralelo em jogo nenhum. Além disso, Blacklist tem muito mais conteúdo no geral, e de qualidade – não topei com uma missão extra sequer que não fosse memorável e desafiadora. Muita gente ainda não consegue lidar com jogo de stealth, e por isso Blacklist não terá o mesmo apelo de Tomb RaiderBioshock Infinite… Mas ainda acho Blacklist um jogo mais bem resolvido.

9. The Wonderful 101 (Wii U)

Capa de The Wonderful 101 (Wii U)Que The Wonderful 101 não seja muito lembrado em votações de leitores é compreensível, já que se trata de um exclusivo de um console lutando para se manter vivo em termos de vendas – e quem o comprar provavelmente irá priorizar jogos de franquias mais tradicionais e/ou de qualidade garantida, como Super Mario 3D WorldNew Super Mario Bros UPikmin 3Rayman Legends. O que é uma pena; The Wonderful 101 não ganhou a categoria Inovação e foi citado em Ação/Aventura, Exclusivo de Wii U, Surpresa do Ano e Visual à toa. Não é um jogo fácil de descrever, muito menos de jogar; mesmo a demo é capaz de confundir desavisados, já que se trata de um jogo bastante técnico e complexo, que exige dedicação, habilidade e tentativas sucessivas para ser dominado, como todo jogo da Platinum (caso leia bem inglês, recomendo este artigo, que usa The Wonderful 101 como exemplo para demonstrar que o imediatismo da imprensa de games não favorece jogos que exijam habilidade). O jogo é tão único que à primeira vista parece algo totalmente diferente do que realmente é (pense em Pikmin 3: apesar de controlar 100 heróis, os dois não têm nada a ver) e no final das contas é uma rendição bizarra e incomum de um jogo de hack ‘n slash (pense em Devil May CryBayonetta e estará no caminho certo). E ainda tem quem diga que o Japão não lança jogos inovadores como antigamente… Só rindo. The Wonderful 101 tem mais criatividade do que todos os jogos AAA ocidentais de 2013 juntos. Simples assim.

8. Shin Megami Tensei IV (3DS)

Capa de Shin Megami Tensei IV (3DS)Consigo imaginar facilmente que alguns contestem a presença deste jogo aqui “roubando” espaço de outros mais badalados, ou até mesmo de Fire Emblem: Awakening no mesmo console… E sou o primeiro a admitir que tenho uma predileção muito particular pela série Shin Megami Tensei. Aqui não é o espaço para explicá-la em detalhes, mas o aspecto “Pokémon do Inferno”, a tensão de ter que lidar com one-hit kills o tempo inteiro no combate e a temática bizarramente apocalíptica sempre me cativaram. Mas na verdade, o espantoso é que o jogo não esteja em uma posição acima da 8ª, considerando meu amor pela série. O principal motivo para isso é o elenco de personagens, que não tem o mesmo carisma dos spin-offs (como Persona ou Devil Survivor) ou mesmo de jogos anteriores da série. Além disso, um ou outro DLC pode ser usado quase como um cheat para subir de nível muito rápido. Em compensação, nunca um Shin Megami Tensei foi tão amigável, sem perder absolutamente nada da jogabilidade básica – pelo contrário, o jogo está tão difícil quanto Nocturne, senão mais. Como exemplo, por uma distração, cheguei a morrer para 3 adversários de nível 9 mesmo com minha party composta por 4 personagens com nível acima de 20 (sério!). Poucas séries de jogos são tão tensas e recompensadoras… E com uma interface geral melhorada e uma narrativa cheia de surpresas conceituais, Shin Megami Tensei IV tinha que estar entre os 10 melhores.

7. Grand Theft Auto V (PS3/X360)

Capa de Grand Theft Auto V (PS3/X360)Talvez por não ter premiado Grand Theft Auto V em nenhuma categoria, alguém possa achar estranho o jogo estar entre os dez, mas na verdade ele foi muito bem em tudo que se propõe. Talvez a premiação esteja precisando de categorias como “Melhor Jogo de Mundo Aberto” ou “Maior Quantidade de Conteúdo Relevante”, mas enfim: Grand Theft Auto V é uma impossibilidade técnica nos hardwares em que foi lançado. Não era para um jogo com esse escopo, visual e jogabilidade rodar em um PS3 ou Xbox 360 sem bugs enormes e constantes, e só isso já é um feito. O que mais me chamou a atenção, porém, é como nenhuma das atividades extras do jogo me fez sentir como se estivesse “fugindo” da narrativa principal, ou que o jogo estivesse tentando esconder a “desimportância” da trama principal com incentivos a minigames e afins. Por exemplo, quando Trevor encontra a personagem secundária que é maníaca por exercícios (e “abre” atividades de triatlo na cidade), sua reação inicial é muito mais… peculiar do que a de Franklin e Michael, já que a atitude da mulher tem muito mais a ver com ele. Essa preocupação com detalhes e com a integração das atividades à personalidade dos protagonistas e/ou aos temas principais do jogo, enquanto outros títulos de mundo aberto apenas se preocupam em encher linguiça com qualquer coisa que não suspenda a imersão, é o diferencial que torna Grand Theft Auto V o jogo de mundo aberto mais coeso já feito até agora. Com folga. (Ou pelo menos até sair The Witcher 3… Vamos ver).

6. DmC – Devil May Cry (PC/PS3/X360)

DmC: Devil May Cry (PC/PS3/X360)Não joguei todos os títulos da série Devil May Cry, mas joguei o 1º e o 2º – respectivamente o mais emblemático (senão o melhor) e o mais odiado até então. Também joguei os dois títulos da Ninja Theory (Heavenly Sword e Enslaved: Odyssey to The West), estúdio escalado pela Capcom para “repaginar” a série. Por essa experiência, estava esperando um reboot que iria deixar Devil May Cry ainda mais bonito e com uma narrativa de alto nível, mas que perderia algo na jogabilidade. Mal poderia imaginar que o jogo me surpreenderia, positivamente ou não, em todos esses três fatores. Primeiro o negativo: Devil May Cry nunca teve uma trama tão descartável, embora se possa dizer que dessa vez ela pelo menos faz algum sentido e tem uma progressão “normal”. Mas isso é a única coisa que impede DmC de ser catapultado para uma vaga entre os cinco melhores jogos de 2013. De resto, a direção de arte supera expectativas até mesmo para a Ninja Theory, e a jogabilidade não apenas está boa como deveria ser modelo para todos os jogos de hack n’ slash “tradicionais” daqui em diante, junto com Bayonetta. Não à toa, escolhi DmC – Devil May Cry como o melhor jogo nas categorias Ação/Aventura e Visual, e o mencionei com louvores em Multiplataforma, Surpresa do Ano e Inovação. Esqueça a baboseira sobre o novo visual do personagem, escolha o modo de dificuldade equivalente ao Hard (ou acima, se for veterano da série) e seja feliz.

5. Bit.Trip Presents… Runner 2: Future Legend of Rhythm Alien (iOS/PC/PSN [PS3/Vita]/eShop [Wii U]/XBLA [X360])

Bit.Trip Presents... Runner 2: Future Legend of Rhythm Alien (iOS/PC/PSN [PS3/Vita]/eShop [WiiU]/XBLA [X360])Quando comecei a investigar quais jogos iria “indicar” e escolher como vencedor em cada categoria, achei que meu amor quase incondicional por Bit.Trip Runner 2 fosse ser ‘”unilateral” – no sentido de que os leitores não iriam se identificar com ele. Inclusive, embora o jogo tenha sido lançado em março/abril (outubro no iOS e dezembro no Vita), até esta premiação eu não tinha escrito uma linha sobre ele. E aí os resultados da Votação dos Leitores começaram a chegar, e Runner 2 conseguiu uma vaguinha apertada entre os 10 primeiros, com 12,3% dos leitores escolhendo-o entre seus 5 melhores jogos do ano. Ao contrário de The Wonderful 101Shin Megami Tensei IV, exclusivos de console que vários leitores podem nunca ter tido a chance de jogar, Bit.Trip Runner 2 saiu para praticamente tudo, e ver o reconhecimento espontâneo dos leitores a ele demonstra que eu não estava maluco: pouquíssimos jogos em 2013 foram tão bem amarrados, tiveram um design tão “fechadinho” quanto esse. Runner 2 não apenas é a evolução máxima do subgênero autorunner, mas também uma aula de construção de jogo de plataforma e uma pérola de bem-estar e pura felicidade em forma de jogo.

3. Super Mario 3D World (Wii U)

Capa de Super Mario 3D World (Wii U)“Peraí – pulou do 5º lugar para o 3º?” Sim, porque da mesma forma que aconteceu na categoria Jogo de Plataforma, eu não consigo decidir se gosto mais de Super Mario 3D World ou de Rayman Legends (no Wii U, pelo menos). E pensando bem, porque eu deveria ser obrigado a escolher? Os dois jogos estão na vanguarda do gênero no momento, cada um à sua maneira. Mas voltando ao jogo mais recente do Mario: sempre desconfiei que preferia os jogos 3D do bigode em vez dos “tradicionais”, na contramão do consenso geral (e das vendas na maioria dos casos comparáveis, como New Super Mario Bros Wii vs. Super Mario Galaxy). É claro que os 3D usam a base dos clássicos das eras 8 e 16 bits, mas sempre achei que a expansão do “terreno” além da pura progressão lateral permitiu à Nintendo soltar mais a criatividade no design das fases – a ponto delas se tornarem verdadeiros puzzles em alguns casos. No início, essa expansão 3D se dava com algum sacrifício de jogabilidade, especialmente por causa de questões de câmera e controle, como enxergar exatamente aonde você está pulando. Super Mario Galaxy foi um primor em termos de câmera, Super Mario 3D Land (3DS) praticamente resolveu a questão de compreender onde você vai aterrissar… E Super Mario 3D World é o ponto culminante das duas coisas – até um pouco de controle da câmera ele dá. Nunca um Mario 3D foi tão intuitivo de jogar, e por isso está aqui entre os 3 melhores jogos de 2013.

3. Rayman Legends (PC/PS3/PS4/Vita/WiiU/X360/X1)

Capa de Rayman Legends (PC/PS3/Vita/WiiU/X360/breve no PS4/X1)O último jogo do mascote da Ubisoft está aqui ao lado do Mario, mas por motivos diametralmente opostos. Não que lhe falte criatividade – muito pelo contrário – mas por injetar uma altíssima dose de ousadia e zoeira em um jogo de plataforma 2D. Embora se possa alegar que indies têm feito isso nos últimos anos, a verdade é que a imensa maioria desses títulos é composta por uma ou duas ideias meio “fora da casinha” – controle temporal, microfases ultradifíceis, estética surreal em preto e branco etc. – extrapolada para um jogo inteiro. Ótimo, mas eu sentia falta de um jogo de plataforma 2D com o mesmo nível de maluquice, porém com altos valores de produção e capacidade para variar mais. Rayman Origins chegou perto, mas ainda estava faltando aquela variação maior na jogabilidade. Entra Rayman Legends: é minigame de “futebol”, é galeria de colecionáveis, é fase “musical”, é fase autorunner com tela de toque e giroscópio, é fase “bônus” para salvar personagens, é fase em que você sai correndo sem parar… Mesmo os melhores jogos de plataforma 2D da história, antigos ou novos, nunca me prendem por sessões de mais de uma hora porque no final das contas seguem a mesma fórmula do início ao fim, e a progressão unidirecional só reforça a sensação de repetição. Rayman Legends foi o jogo 2D que mais “quebrou” isso nos últimos anos. Não é à toa que está aqui, de braço dado com Super Mario 3D World – não competindo, e sim complementando.

2. Guacamelee! (PC/PSN [PS3/Vita])

Guacamelee! (PSN/Vita)O subgênero “Metroidvania” é algo que experimentei tarde, bem tarde (tipo, de 2009 para frente), mas que me cativou desde o início, mesmo quando peguei “velharia” para jogar. Não é de se espantar: entre todos os gêneros e subgêneros presentes na era 16 bits, talvez seja um dos que envelheceu melhor. Ao misturarem plataforma, exploração, um pouco de combate (tiro ou hack n’ slash) e elementos leves de RPG, os melhores jogos “Metroidvania” alcançaram um grau de variação na jogabilidade que esses gêneros jamais conseguiriam isoladamente, seja por limitações de hardware ou de conceito mesmo. Não, o que espanta mesmo é que o subgênero tenha demorado um pouco para encontrar seu espaço na nova geração – mais ou menos a partir de Shadow Complex na Xbox Live, em 2009. Desde então, muitos “Metroidvania” foram feitos, inclusive na própria série Castlevania (os jogos de DS, Harmony of Despair etc.), mas nenhum jogo chegava perto de Super Metroid ou Symphony of the Night em termos de pura qualidade, ou mesmo àquela sensação de novidade dentro do subgênero que Shadow Complex proporcionou. As duas coisas juntas, então, nem pensar. Até que saiu Guacamelee!. Poucos jogos me prenderam até fazer 100% nos últimos anos – dá para contar nos dedos de uma mão – e esse foi um deles, em um dos subgêneros mais difíceis de se acertar do ponto de vista do design. É um feito e tanto, e por isso não levou o prêmio de jogo do ano por pouco, muito pouco.

1. The Last of Us (PS3)

Capa de The Last of Us (PS3)E finalmente, o grande campeão: o mesmo que os leitores escolheram, o mesmo que a grande maioria dos portais e revistas e blogs e afins escolheu como Melhor Jogo de 2013. Quem acompanha o blog desde pelo menos 2010 (ou se deu ao trabalho de fuçar nos arquivos) sabe que a convergência entre este autor, a grande imprensa e/ou os leitores não é garantida. Em 2012, a imprensa se dividiu bastante, com The Walking DeadXCOM: Enemy UnknownJourney e (em menor grau) Dishonored como principais vencedores de Jogo do Ano. Aqui no blog não escolhi um título específico, mas meu predileto sempre foi The Walking Dead. Já em 2011, SkyrimPortal 2 dividiram quase todos os prêmios da imprensa, mas aqui o jogo da Bethesda não ficou nem entre os 10 melhores (Portal 2 sim, perdendo apenas para CatherineDark Souls). Surpreendentemente, os leitores acompanharam, deixando Skyrim de fora do top 3 de todas as categorias, até mesmo RPG. Já em 2010, Red Dead RedemptionSuper Mario Galaxy 2Mass Effect 2 foram os principais vencedores na imprensa, e um deles levou aqui no blog, tanto nas mãos dos leitores quanto do autor – embora em outras categorias a divergência tenha sido bem pronunciada.

E aí chegamos a The Last of Us. Em todos esses anos em que voltei a jogar games e acompanhar a imprensa – ou seja, desde 2008 – nunca vi uma unanimidade tão grande (nem Skyrim ganhou tanto “GOTY”). Aliás, nem Grand Theft Auto V conseguiu desbancar o jogo da Naughty Dog, a não ser no VGX (ex-VGAs) – justo quando o evento deu três passos para trás após dois anos dando passinho de bebê para frente. Como The Last of Us conseguiu essa proeza? Bom, as minhas razões para escolhê-lo já ficaram bem evidentes ao premiá-lo nas categorias Exclusivo de PS3 e Melhor Narrativa, especialmente esta última. Mas calma lá, você que acha que os jogos não precisam ter histórias tão “relevantes” quanto no cinema e na literatura: na verdade estamos vivendo uma retomada séria dos jogos puramente lúdicos, que se concentram em mecânicas, jogabilidade e a subjetivíssima diversão. Duvida? Basta subir a página e ver minhas próprias escolhas: Guacamelee!Rayman Legends, Super Mario 3D WorldRunner 2DmCThe Wonderful 101 são jogos totalmente voltados à habilidade e ao design de fases, enquanto Grand Theft Auto VSplinter Cell: Blacklist não estariam aqui se dependessem apenas de suas narrativas. Só Shin Megami Tensei IV se sustentaria pela trama, e ainda assim se trata de um jogo difícil de dominar e que passa longe de ser uma experiência “cinematográfica”.

O ponto é que apesar da gritaria ocasional contra jogos modernos, que estariam “virando experiências interativas com pouco gameplay“, a realidade é que tais jogos ainda são raros. Para piorar, a maioria acaba não conseguindo mesclar bem narrativa e jogabilidade, e os que conseguem nem sempre acertam na mosca nos dois fatores. De novo, 2013 é um ótimo microcosmo de exemplo. Beyond: Two Souls até melhorou a jogabilidade de Heavy Rain em trechos, mas a história como um todo é uma colcha de retalhos de momentos até interessantes, mas que não formam uma narrativa coerente. Tomb Raider é um primor de integração narrativa-jogabilidade, tanto quanto qualquer jogo da Naughty Dog, mas ficou devendo um tantinho no carisma dos personagens e na significância da trama. De resto, as “experiências cinematográficas” ficaram restritas às campanhas de Battlefield 4Call of Duty: Ghosts – aquelas que a maioria ignora. E esses dois jogos estão dominando tanto seu mercado que ninguém mais está sequer tentando alcançá-los – nem a própria EA, que desencanou de Medal of Honor.

Tela de The Last of Us (PS3)
O jogo ser esse colírio todo não faz mal nenhum, também

Poucos jogos nessa geração com uma trama realmente boa conseguiram integrá-la à jogabilidade de tal forma que acabam deixando o cinema e a literatura para trás, por serem experiências fundamentalmente diferentes. Portal 2Catherine. Deus Ex: Human RevolutionPersona 4Red Dead Redemption. Qual mais? Séries como Bioshock e Metal Gear Solid têm ambições demais e por vezes cedem sob o próprio peso, com problemas sérios de dissonância e furos na trama. Enquanto isso, séries como Grand Theft AutoUncharted Max Payne conseguem fazer bem a tal integração porque não se arriscam em suas histórias – no mundo dos jogos, são equivalentes aos melhores filmes policiais e de aventura já feitos, mas não passam disso. Assassin’s Creed chega perto da perfeição em vários momentos, mas sempre tropeça na jogabilidade ou na trama em algum ponto, dependendo do jogo. Por fim, alguns indies se destacam por boas tramas, mas quando isso acontece, a jogabilidade sempre é reduzida a um mínimo de interação, como em To The MoonGone HomeThe Stanley Parable.

É nesse vácuo que The Last of Us entra: não há nenhuma perda nele. Sua fluidez é equivalente à de Uncharted ou Max Payne 3, porém com uma trama muito mais complexa, envolvente e particular. Ainda assim, a história não tem a mesma pretensão dos trabalhos de Ken Levine ou Hideo Kojima, e não por acaso, não sofre com “barrigas” ou com a necessidade de se desvincular quase que totalmente da jogabilidade em certos pontos. Falando nela, o jogo parte da fórmula básica do survival horror – seja metódico, conserve itens, evite confrontos abertos quando possível etc. – mas passa longe de ser “travado” ou chato, mesmo quando a coisa degringola e você precisa partir para o ataque direto. O gameplay seria perfeito se não fosse a inteligência artificial da Ellie, mas esse é um detalhe relativamente menor considerando a miríade de formas em que o design do jogo poderia ter “cagado” a trama e vice-versa. Não é nada fácil misturar Uncharted com Silent Hill e um cenário pós-apocalíptico, tudo isso em uma trama sobre o que é ser pai (ou mãe, por tabela), sem criar um Frankenstein desagradável. The Last of Us conseguiu fazer esse monstro parecer 100% humano, e por isso é tão memorável. Que ganhe o maior prêmio de 2013, e se torne uma nova pedra filosofal para quem mais se aventurar pela ingrata seara de unir o melhor da narrativa ao melhor dos jogos.

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5 comentários sobre “Melhores de 2013: Jogo do Ano

  1. Não gostasse do jogo The Elder Scrolls V: Skyrim? Eu comprei recentemente o game e to achando um jogo bem divertido, toda aquele mundo imenso cheio de possibilidades, a história to achando meia-boca mas eu meio que fiz a minha própria história dentro do jogo. Os mods caramba o que seria de alguns jogos sem os mods eu achei modificações excelentes que melhoraram muito Skyrim e ainda trouxeram coisas muito divertidas a jogabilidade como Animated Prostitution que da possibilidade de você fazer sexo com os NPC’s do jogo.

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    • Não gostasse do jogo The Elder Scrolls V: Skyrim?

      Não é questão de não gostar, tanto que tenho quase 40 horas nele. Você não joga esse tanto de um jogo ruim.
      É só que teve de 10 a 15 jogos melhores que ele naquele ano – que aliás foi o melhor que vivi desde que voltei aos games com tudo em 2008. Tranquilamente.

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  2. “Tomb Raider, a coisa começa mais simples: o multijogador dele é convencional e desnecessário”. E mais uma coisa, pra quem jogou multiplayer de The Last of Us, sabe que não foi nada desnecessário como foi comentado em umas reviews por ai, é um modo de jogo melhor que muitos multiplayer superando multiplayer do Uncharted 2 e 3. Mesmo porque a essência do jogo está presente no modo multiplayer, coisa que não aconteceu em Tomb Raider, multiplayer de Tomb Raider SIM foi DESNECESSÁRIO.

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