Motion Sickness: Cursed Mountain [atualizado: 15/11]

Chacumdum no WiiMotion Sickness é uma seção recorrente deste blog criada para apresentar games de Wii (e talvez futuramente PS Move ou Kinect) que utilizem sensores de movimento para algo além de simples chacoalhadas que controlam avatares sem braços; em outras palavras, jogos que demonstram um potencial maior para o Wii Remote e, por preconceito e desinformação de jogadores tradicionalistas, acabam recebendo menos atenção do que deveriam.

Todo mundo sabe que há jogos de Wii (e não são poucos) que sub-utilizam o Wii Remote em simulações simplistas de esportes, ou que pedem ao jogador que chacoalhe o controle de qualquer jeito para ativar um comando. Ao mesmo tempo, muita gente ignora (às vezes de propósito) que também existem diversas maneiras de aproveitar melhor o potencial do controle, inclusive em jogos que atendam a um público gamer mais dedicado – jogos que poderiam usar controles tradicionais, mas que ganham muito em imersão com o uso inteligente de movimento.

Logotipo de Cursed Mountain (PC/Wii)

Embora alguns destes jogos tenham sido convertidos com sucesso a partir de versões para outros consoles, como Resident Evil 4, em geral os melhores usos do Wii Remote aparecem mesmo nos exclusivos do Wii, desenvolvidos especificamente para uma imersão maior. Veja o caso, por exemplo, do game que abre esta seção especial do blog Re: Games: Cursed Mountain.

Capa de Cursed Mountain (PC/Wii)Cursed Mountain

Estúdio desenvolvedor: Deep Silver
Editora: Deep Silver
Lançado em 25/08/2009

Sinopse

O jogo é situado no final da década de 80 em uma montanha do Himalaia chamada Chomolonzo, conhecida pelos habitantes como “A Sagrada”. O personagem que você controla, o alpinista profissional Eric Simmons, chega ao local em busca de seu irmão desaparecido, Frank, que havia sido contratado para escalar Chomolonzo e encontrar um raro artefato chamado terma. O problema é que Frank, cumprindo o papel bastante clichê de ocidental civilizado e ignorante, desdenhou as “crendices” dos nativos e subiu a montanha sem passar por todos os rituais preparatórios, o que enfureceu a deusa da montanha. Como castigo, a deusa lançou uma maldição na montanha que varreu (praticamente) todos os nativos… E Eric agora precisa realizar uma escalada solitária e tensa para encontrar seu irmão perdido.

O jogo
Paisagem do Cursed Mountain (PC/Wii)
Solitário em uma cultura estranha e com pouco ar para respirar: medo!

Cursed Mountain é um daqueles jogos de survival horror feitos por quem sabe a diferença entre tensão e sustos baratos – isto é, nada de monstros/fantasmas/criaturas surgindo em sequência, e sim uma mistura equilibrada de atmosfera, efeitos sonoros e andamento cadenciado. Prepare-se para entrar em vilas, acampamentos e monastérios (aparentemente) desertos e açoitados por ventos fortes; escalar paredes de gelo em que o único som é o eco de suas ferramentas de alpinismo; e caminhar por beiradas a milhares de metros de altura, tudo com visão plena das áreas já visitadas lá embaixo.

Os desenvolvedores aprenderam bem as lições de Eternal Darkness: Sanity’s Requiem (GameCube) e usaram-nas de forma ocasional aqui em um contexto bem interessante: o do ar rarefeito, devido à altitude, combinado com um cenário permeado por religião e pelo sobrenatural. Em alguns momentos/locais, a câmera se desloca um pouco para o lado, a perspectiva muda e a tela perde parte das cores para demonstrar que o protagonista está próximo de algum fenômeno estranho. Na escalada, há momentos em que ele simplesmente respirará de forma mais ofegante e sua velocidade de corrida diminuirá, tudo em função da falta de oxigênio. Fica claro que Cursed Mountain também bebe (e muito) da fonte dos survival horror clássicos, como os primeiros Silent Hill e Resident Evil. Mas esta seção é sobre sensores de movimento – e neste quesito, é preciso ser muito pentelho para não reconhecer que Cursed Mountain é único.

Os controles
Mira em Cursed Mountain (PC/Wii)
Preparar, apontar, raio budista

Existem diversas filosofias de desenvolvimento de interfaces com o Wii Remote e derivados, mas em geral, todas caem em uma de três fórmulas básicas possíveis: em um extremo, quase todos os comandos são “tradicionais” (botões, alavanca analógica do Nunchuk); no outro, quase tudo é controlado com gestos; e no meio, ficam os games que tentam atingir algum tipo de equilíbrio. Cursed Mountain é da estirpe “coluna do meio”, o que para alguns é o ideal. A movimentação do personagem é controlada pelo analógico do Nunchuk, enquanto os golpes físicos e os raios místicos são desferidos apertando o gatilho (B). Por outro lado, há um modo de mira com cursor apontado para tela, e gestos são usados em algumas ações fundamentais.

Ao subir a montanha, Eric descobre que é capaz de enxergar uma dimensão chamada Bardo, semelhante ao limbo, e de interagir tanto com símbolos de proteção quanto com os fantasmas dos nativos amaldiçoados pela deusa. Esta interação exige gestos específicos com o Wii Remote e o Nunchuk, a maioria deles feitos nas diagonais e para a frente. Prompts aparecem na tela indicando a ordem dos gestos, que precisam ser feitos não apenas corretamente mas de forma deliberada, sem pressa nem demora, como em um ritual místico.

Gestos rituais em Cursed Mountain (PC/Wii)
Direita, esquerda, exorcizar!

Os gestos são realizados para finalidades místicas: desfazer rituais de proteção em portas, descobrir itens ocultos por magia, exorcizar fantasmas e demônios enfraquecidos e assim por diante. Estes gestos são dos mais frequentes e cumprem um papel fundamental no sistema de combate, em que o jogador segura um botão para enxergar o Bardo e entrar em um “modo de mira” semelhante ao de Resident Evil 4; após acertar o alvo com rajadas místicas suficientes, um ponto fraco aparece, e ao selecionar este ponto com o cursor e apertar o botão (A), é hora de seguir os prompts e expulsar aquele ser deste plano.

Em geral, estes gestos funcionam; há um pouco de lag, mas o próprio jogo parece levar isso em conta ao oferecer vários segundos para que você os realize. Algumas resenhas (como a do GameSpot, no vídeo ao final deste texto) reportaram problemas de resposta, especialmente em rituais mais complicados nas fases mais avançadas, mas há controvérsias – na minha experiência pessoal com o game,  só aconteceu falta de resposta quando ainda não sabia que estava fazendo um gesto errado (quem manda não ler o manual?[*]) e quando o Nunchuk estava desconfigurado; após o processo de redefinição (deixe a alavanca analógica bem no centro e segure por 5 segundos os botões (A), (B), (+) e (-) no Wii Remote), todos os movimentos passaram a ser reconhecidos pelo jogo normalmente.

Paisagem do Cursed Mountain (PC/Wii)
Mexa pra lá, mexe pra cá

Isso explicado,o que importa é que o sistema de rituais com gestos em Cursed Mountain parece uma versão mais sofisticada dos famosos QTEs (Quick Time Events), sem as desvantagens normalmente associadas a este tipo de solução: não se trata de cenas de corte interativas e sim de partes do próprio jogo; o ritmo dos prompts é cadenciado, e não pede resposta tão imediata; e o fato das respostas serem movimentos transforma esses pseudo-QTEs em algo que te coloca na pele do personagem e seus rituais místicos, em vez de simplesmente medir o seu tempo de reação e roubar a sua atenção do que está acontecendo naquele momento do jogo.

[*] Atualização quanto aos controles

Enquanto escrevia este artigo, voltei a jogar Cursed Mountain para verificar alguns fatores e topei com mais alguns problemas de resposta nos gestos em áreas mais adiantadas do jogo. Assim, para quem está pensando em experimentar o jogo e não tem acesso ao manual (por qualquer motivo), eis algumas dicas de como mitigar a questão e não passar raiva por morrer à toa:

  1. Faça a redefinição do Nunchuk como explicado acima, só por garantia, antes de iniciar o jogo. São 5 segundos que te poupam minutos de dor de cabeça.
  2. Para os gestos na diagonal, qualquer movimento para o lado correto serve, mesmo que na horizontal.
  3. Os gestos para a frente exigem mais cuidado. Em primeiro lugar, note que os gestos “mova para a frente” devem ser feitos com o Wii Remote ou Nunchuk apontando para o teto, e não para a tela. Como o Wii Remote é apontado para a tela imediatamente antes (para disparar rajadas nos fantasmas antes de exorcizá-los), é natural que o jogador não o levante na hora dos gestos – mas ele deve ser levantado.
  4. Por fim, ao iniciar os gestos rituais para a frente, mantenha as duas mãos próximas ao peito e mova somente o controle pedido (Nunchuk ou Wii Remote) de forma deliberada, nem muito brusca, nem lenta. Se mesmo assim o jogo não responder, tente mais uma vez e certifique-se de manter a outra mão imóvel, junto ao peito.

Seguindo estas instruções, o jogador não deve ter maiores problemas.

««« »»»

Recado do autor:

Esta seção, espero, será atualizada com mais frequência dos que as outras têm sido, pelo menos uma vez por semana. A ideia é reunir o máximo possível de bons games com controle de movimento no Wii para demonstrar que o ódio ao console é injustificado e tem mais a ver com desinformação de gamers tradicionalistas; como diz o ditado, o pior cego é aquele que não quer enxergar.

Assim, tenho uma lista aqui de mais de 20 jogos a aparecer no futuro, mas quero ouvir a opinião dos leitores que têm Wii – até para priorizar quais jogos devo mencionar primeiro. Que game de Wii, na sua opinião, utiliza os sensores de movimento de forma inovadora, consistente, ou os dois? Comentem!

5 comentários sobre “Motion Sickness: Cursed Mountain [atualizado: 15/11]

    • Cara, se com esta seção as pessoas se convencerem de que o console não tem só as franquias famosas da Nintendo, clones de Wii Sports e bobagens “casuais”, já fico feliz. Não precisam comprar o Wii – basta perceberem que o console mais popular em cada época sempre atrai um monte de jogos ruins, principalmente se tiver tecnologia nova, e que isso não justifica uma generalização. Atari, Nintendinho, MegaDrive/Sega CD, os dois primeiros Playstations e até o Xbox 360 passaram por isso também. O Wii só é mais um a carregar a cruz.

      Tu já sabe disso, então talvez por isso tenha pensando em ir pro “próximo nivel”, comprar XD

      Além disso, é bom falar de usos de sensor de movimento para pensarmos o que cobrar das produtoras nesse quesito. O pessoal adora reclamar dos sensores, e com certa razão… Mas se o jogador dedicado ignorar sempre estes controles e não prestigiar as boas ideias realizadas com eles, aí sim é que as produtoras vão continuar só produzindo minigames de esportes e muito, muito chacumdum XD

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  1. Só consegui agora um tempinho para ler a tua matéria. =P
    Muito legal mesmo Fabio, confesso que apenas tinha ouvido falar de Cursed Mountain, mas nunca cheguei a jogar realmente. Mas, depois desse Motion Sickness, impossível eu não ir atrás do jogo.

    Ontem estava mostrando para um amigo meu o jogo Silent Hill: Shattered Memories (já fica a dica) e mesmo ele sendo um dono de Xbox360, ficou impressionado com o jogo e disse que nunca havia visto um jogo do Wii que utilizasse tão bem os sensores de movimento, sem tornar algo cansativo e chato depois de um tempo.

    Fiquei pensando e exclamando: “Mas que caralho! Por que não fazem mais jogos no estilo Silent Hill e/ou Resident Evil 4, que ficaram excelentes para Wii?!”.

    Adoro meu Wii e acho uma compra extremamente válida. Há jogos que terminei nele que vão ficar pra sempre na minha memória. Além de ser uma ótima diversão entre amigos. Agora, se eu tivesse APENAS um Wii, a coisa ia ficar meio feia. Ter uma outra plataforma é essencial para quem não quiser perder os principais lançamentos. No meu caso, estou me virando com o PC.

    Enfim cara, adorei a coluna e achei o nome criativo pacas! Pode ter certeza que vou voltar a cada Motion Sickness e claro, para outras colunas do blog. Até porque, preciso conhecer coisas diferentes para meu Wii. Um abraço.

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    • Fala Ricardo,

      Tudo beleza?
      Cara, eu sou suspeito para falar de Shattered Memories. Basicamente, eu comprei o Wii por causa dele. 🙂 Mas em algum ponto ele vai aparecer na seção, nem que seja para quem não lia meu antigo blog de RPG saber exatamente qual é a do jogo.

      Outro que tem algumas ideias parecidas – Wii Remote controlado como lanterna, sons saindo do speaker dele etc. – é Fragile Dreams: Farewell Ruins of the Moon, mas se trata de um jogo bem diferente, onírico e com cara de RPG japonês (embora não seja um RPG). Tem Calling também, um jogo de terror da Hudson bastante repetitivo e sem brilho. O primeiro deve aparecer na seção, o segundo já não garanto, por não ser lá essas coisas.

      Também senti falta de outra plataforma, mesmo tendo o PC. Mas acho que a questão inversa também vale. Imagino que tenha muito gamer mais novo que não sente falta dos jogos da Nintendo, mas eu sentiria se tivesse ido só de Playstation.

      Quanto ao nome da coluna, quem sugeriu foi o Cosmocast sem querer – tem um episódio aí em que o Walisson comenta ter motion sickness (que não conseguiu jogar Borderlands por isso etc.), e a expressão ficou na cabeça 🙂

      Um abraço e nos vemos por aqui e lá no Cosmogamer 🙂

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