Select: Battlefield 3 x Call of Duty: Modern Warfare 3

SelectÉ muito comum, no mundo do entretenimento em geral, fãs criarem rivalidades das mais variadas: Star Trek vs. Star Wars, Marvel vs. DC, Beatles vs. Rolling Stones. Com os games não é diferente – e, considerando o custo de um jogo moderno, é bastante natural fazer escolhas entre games semelhantes e se agarrar a elas. Pensando nisso, criei a seção Select para tomar partido mesmo nesses casos.

Para quem não está nem aí para Battlefield 3 e Modern Warfare 3, “folheiem” as comparações e leiam direto a conclusão. Confiem em mim. Se depois der vontade de ler as categorias, avisem-me nos comentários 😉

Call of Duty: Modern Warfare 3 (PS3)

Poucos embates foram tão comentados, observados e “marquetados” este ano quanto aquele entre as duas maiores franquias de FPS do mundo dos games. A capacidade humana de polarizar um dia iria chegar a esse gênero, e a predominância de Call of Duty como a franquia mais lucrativa da atualidade só pôs mais lenha na fogueira. Agora que este autor pôde experimentar Battlefield 3 por algumas horas – mais sobre isso na última seção Back, da terça passada – é hora de destrinchar a comparação e ver quem se saiu melhor pra valer. O quê? Se eu joguei Modern Warfare 3? Não, mas e daí? Eu joguei Modern Warfare, Modern Warfare 2 e Black Ops, então já vi 95% do que Modern Warfare 3 irá oferecer (os outros 5% são a vã esperança de que façam alguma coisa interessante com o tema “terceira guerra mundial”. Sério. Na boa. Vocês não acham que eu vou comprar mais um Call of Duty, né? Francamente).

Capa de Battlefield 3 (PS3)Alguém poderia argumentar que o mesmo se aplica a Battlefield, mas na verdade, entre spin-offs como Battlefield 1943, 2142Vietnam e os dois Bad Company, a franquia tem sido mais diversa. É claro que ainda se trata de uma sequência de games de tiro em primeira pessoa com temática militar e foco na experiência multijogador online, assim como seu concorrente; quem não gosta da premissa vai ter tanta dificuldade em notar as diferenças quanto alguém que odeia futebol ao tentar diferenciar Fifa de Pro Evolution. Ainda assim, as divergências existem. Algumas são históricas e não devem mudar, como o tamanho dos mapas de Battlefield e a velocidade do “mata-mata” de Call of Duty. Isso dito, o que as edições mais recentes trouxeram de melhor para o mundo dos FPS em 2011? É isso que vamos destrinchar aqui, e decidir de uma vez por todas qual é o melhor sem dúvida alguma pra valer mesmo cientificamente falando because I said so. /hint

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Crysis 2 (PC/PS3/X360)

Visual

Desde o primeiro trailer, Battlefield 3 impressionou pelo visual acachapante. Em certos aspectos ele parecia um jogo da próxima geração… O que certa forma não deixava de ser, já que as imagens exibidas foram, na verdade, capturadas em um PC topo de linha, com especificações muito acima dos consoles atuais, já com seus 5-6 aninhos de existência. Ainda assim, Battlefield 3 é um show de efeitos especiais nos consoles, considerando as restrições de processamento e memória. Os trailers de Modern Warfare 3 também apresentaram uma melhora significativa em relação aos jogos anteriores, que sempre tiveram visual competente, embora não exatamente original ou acima da média para um lançamento blockbuster. De qualquer forma, ambos compartilham uma coisa: direção de arte previsível. Tudo bem, a temática militar semirrealista não permite muita variedade de cenários, mas ainda assim há um componente de preguiça/conformismo nisso: olhem, por exemplo, para Crysis 2. O jogo se passa em uma metrópole moderna devastada que não difere em nada da Nova York atual e, mesmo assim, consegue surpreender visualmente em vários pontos da campanha, a ponto até mesmo de conseguir fazer duas cenas com desabamento de pontes parecerem quase completamente diferentes. Observe as plantas, dê uma volta no cenário, confira os detalhes no horizonte e você verá que Battlefield 3 chegou perto, mas ainda não é tão bonito quanto Crysis 2 – a não ser que você tenha o super-PC necessário para jogar Battlefield 3 no High/Ultra, e ainda assim Crysis 2 será menos óbvio.

Vencedor: Crysis 2

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Rage Anarchy Edition (PS3)

Mecânicas de tiro

Jogos de tiro em primeira pessoa são um caso muito à parte em termos de mecânicas. A fórmula do gênero é uma das mais bem estabelecidas há muito tempo, sofrendo apenas algumas pequenas modificações de layout de controle e um ou outro detalhe específico nos jogos que se prestam a tentar oferecer uma ação um pouquinho diferente, como pular obstáculos com movimentos de parkour, deslizar após a corrida, ou “grudar” em partes de cenário como cobertura e atirar por cima. De resto, o que conta mesmo em um FPS hoje são coisas como precisão da mira, ajuste de sensibilidade, sensação de “peso” e “coice” das armas, e como o jogo é desenvolvido para favorecer o uso de diferentes armas e estimular respostas variadas do jogador. Battlefield e Call of Duty fazem um ótimo trabalho nesse sentido, mas ao mesmo tempo são praticamente indistinguíveis nesse campo. Quando se leva tudo em consideração, o espantoso é ver um jogo conseguir oferecer a precisão, os ajustes e as sensações certas em um tiroteio não apenas rápido e desenfreado, como em uma taxa de quadros fechadinha em 60 frames (em console!) e um visual acachapante. E esse jogo é Rage: nada mais natural pros caras que praticamente inventaram o tal do FPS.

Vencedor: Rage

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Capa de Resistance 3 (PS3)

Narrativa

Não há muito o que dizer da narrativa em Call of Duty, especialmente as de Modern Warfare; se você algum dia leu um romance barato de temática militar, basta passar um verniz Michael Bay e pronto. Ou seja, é apenas um amontoado de cenas bombásticas com uma reviravolta onde se descobre que o inimigo real estava, o tempo todo, dentro do próprio exército/governo (meu Deus! Que revelação original!). Em Black Ops, as coisas foram às raias do absurdo ao tecer uma conspiração tão sem pé nem cabeça que termina com o jogador descobrindo quem matou Kennedy. Em tese, Battlefield deveria levar essa categoria com folga… Exceto que Battlefield 3 foi pelo mesmo caminho bombástico do concorrente, ainda que com muito mais bom senso – aqui, a ideia é impedir um outro grande ataque terrorista nos EUA, pronto, acabou. E essa tem se tornado a regra na maioria dos shooters. Raro é aquele que te faz se importar com os personagens, ou que se preocupa em fazer com que NPCs sem importância nenhuma na trama respondam à proximidade do protagonista e, com apenas uma fala ou canção sussurrada, demonstrem exatamente a melancolia e a tristeza de viver em um mundo onde 90% da humanidade foi exterminada. Melhor ainda se esse roteiro der uma motivação pessoal para o protagonista, não tiver pudores de surpreender com mortes inesperadas, e conseguir evocar em certos momentos um clima de tensão/terror comparável a Silent Hill e/ou Aliens. Por oferecer tudo isso, o vencedor desta categoria é Resistance 3.

Vencedor: Resistance 3

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Capa de F.3.A.R. (PC/PS3/X360)

Criatividade

Se tem algo que os FPS são acusados de promover há anos, é a falta de criatividade – e, sinceramente, entre Battlefield 3 e Modern Warfare 3, é difícil encontrar qualquer coisa remotamente inédita. Mesmo os jatos de Battlefield já tinham aparecido em outros jogos mais antigos da série, e os support packs de Modern Warfare 3 apenas mudam como as killstreaks são concedidas. A extensão das novidades nos dois jogos passa, em geral, por esses detalhes menores para os fãs, como mesclar as funções do médico com o soldado de infantaria em Battlefield. Porém, isso não quer dizer que outros FPS não tenham ido mais longe. F.3.A.R. é um caso notório. Por exemplo, a campanha solo é estruturada em missões que vão registrando seu progresso em desafios variados, como causar X mortes usando cobertura ou passar N minutos no modo de reflexos em câmera lenta – por si só uma peculiaridade da série que nenhum outro FPS tem. Cada uma dessas missões pode ser jogada depois em um modo co-op “divergente”, no qual os dois personagens não têm absolutamente nada em comum; não estamos falando apenas de “classes” diferentes, e sim de um espírito capaz de possuir corpos atuando junto a um soldado com hiperreflexos. A campanha também utiliza um sistema de eventos procedurais/aleatórios para fazer com que aquelas aparições repentinas, barulhos assustadores ou clarões momentâneos surjam em pontos diferentes da mesma fase, impedindo que o jogador “decore” cada susto mesmo ao jogar as missões novamente. Por fim, F.3.A.R. lançou um dos modos cooperativos online mais interessantes dos últimos anos: F*cking Run, no qual os jogadores devem fugir de uma barreira psíquica da morte enquanto enfrentam supersoldados genéticos – e se um jogador sequer for alcançado pela barreira, é game over. F.3.A.R. pode não ser a obra-prima técnica que é Battlefield 3, e o multijogador pode não ser tão sólido quanto o de Modern Warfare 3, mas com certeza é bem mais criativo.

Vencedor: F.3.A.R

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Bulletstorm (PC/PS3/X360)

Diversão

É complicado tentar argumentar sobre o fator diversão em um jogo, já que se trata de algo absurdamente subjetivo (mesmo que a maioria não perceba e equacione “diversão” com descompromisso, falta de seriedade ou qualquer coisa que der na telha). Em grande parte, o que as pessoas estão querendo dizer quando alegam que um game é “divertido” é que aquele game é prazeroso de se jogar de acordo com as premissas e expectativas geradas pelo próprio jogo e pelo jogador ao mesmo tempo. Isto é, encarar um FPS mais lento e focado na simulação pode não ser “divertido” para o jogador médio, mas é uma experiência sem igual para um tarado por assuntos militares, e assim por diante. Entre Battlefield 3 e Call of Duty: Modern Warfare 3, é difícil dizer qual é o mais “divertido”, já que ambos miram em noções muito específicas do que é “diversão” em, por exemplo, uma competição multijogador online. Ambos tornam o ato de matar bonecos virtuais algo prazeroso, isso é fato; o que muda são os métodos. Mas se estamos falando de “diversão” como “prazer de matar avatares usando métodos variados”, nenhum dos dois blockbusters sequer chega perto das insanidades de Bulletstorm: chicote elétrico, chute na cara, inimigos triturados em bobinas gigantes, “Disco Inferno”, tiro no meio do ânus e dinossauros mecânicos da morte guiados por controle remoto. Você pode até não achar graça nisso tudo – afinal, “diversão” é algo subjetivo – mas não pode negar que Bullestorm foi muito mais longe no que se propôs do que o mata-mata padrão dos FPS militares.

Vencedor: Bulletstorm

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Capa de Brink (PS3)

Cooperação

Certo, Modern Warfare 3 trouxe de volta o modo co-op e ainda por cima incluiu um modo survival, mas todos nós sabemos que eles serão jogados por 0,1% dos jogadores de Call of Duty – até porque provavelmente o survival não deve ser passível de comparação com os melhores do gênero, como os de Gears of War ou Halo. No campo da cooperação, a série Battlefield tem mais pedigree; o multijogador é tão focado no trabalho em conjunto que nem deathmatch tradicional alguns games da série têm, incluindo o mais recente. Mesmo sem contarem com os comandos de esquadrão do game anterior, muitas pessoas naturalmente jogam Battlefield 3 tentando permanecer próximas, atuando em conjunto sempre que possível. Porém, a amplitude dos mapas e dos objetivos garante que seja raríssimo ver uma equipe tão bem coordenada a ponto de dominar o campo de batalha. Por sua vez, Brink é tão focado na cooperação que chega a doer. As classes de personagem se complementam perfeitamente, e os mapas são cheios de pontos de sufoco que podem ser bem explorados por grupos que se posicionem neles. Objetivos secundários constantes, como montar turretas de defesa ou capturar terminais de munição/itens do oponente, garantem que mesmo os desgarrados do grupo tenham o que fazer. Mas o jogo brilha mesmo quando uma equipe usa todos os recursos que têm à disposição – de minas terrestres e turretas portáteis a buffs que algumas classes podem conceder aos companheiros – e se entrincheira de tal forma que às vezes parece impossível desalojá-la da área para cumprir os objetivos. E o pior é que mesmo nos jogos com bots isso frequentemente acontece. Lógico que é frustrante quando é a equipe adversária que consegue tal feito, e o jogo em si pode estar longe de ser um FPS de 1ª linha; mas de qualquer forma, se houve um FPS em 2011 que valorizou e premiou a cooperação como nenhum outro, esse jogo foi…

Vencedor: Brink

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Capa de Killzone 3 (PS3)

Ritmo

Não deve ser mole criar uma campanha de FPS. Como torná-la variada e interessante sem apelar demais para explosões e cenas de corte e, ao mesmo tempo, sem longas sequências mornas que seriam melhor apreciadas se o jogo fosse, digamos, um RPG? Pior ainda: como incorporar as sequências que todos os fãs do gênero esperam, como o uso de turretas e rifles de precisão, sem  fazer o jogo parecer derivativo? Não é bolinho. A série Call of Duty optou por “resolver” o problema ignorando o medo de apelar demais, e por consequência, suas campanhas às vezes são tão aceleradas que fazem Comando para Matar parecer um filme de arte iraniano. Não há o que contemplar, apenas destruir, matar, explodir e correr em tais campanhas. Em Battlefield 3, a campanha é um pouco mais pé-no-chão e tem a vantagem do característico uso dos veículos, incluindo jatos e tanques… Mas também tem seus momentos arrastados e previsíveis. Além disso, essas campanhas geralmente jogam um arremedo de história logo no início e depois passam uma fase após a outra tentando ficar cada vez mais excitantes e bombásticas, com no máximo uma reviravolta nada-a-ver no roteiro… E aí vem Killzone 3 e vira isso do avesso. Não que a história seja boa – muito longe disso – ou que a campanha seja extremamente criativa, mas o ritmo dela não é comum. Os primeiros 15 minutos são exatamente aquela sucessão de momentos dramáticos que se esperaria do final de uma campanha de FPS, com direito ao uso de diversos apetrechos diferentes e fugas no fio da navalha. Depois, quando a poeira assenta, a campanha vai aos poucos introduzindo a problemática da história, já sem a menor preocupação de impressionar o jogador com mais pompa – embora não se furte de atirar um presente aqui e ali, como as fases com acesso aos jetpacks. E aí, de repente, quando a coisa esquenta, de repente você está no espaço e… Sem spoilers, mas posso dizer que a maior reviravolta é não ter nenhuma, e simplesmente levar a situação até sua resolução normal. O que fica é a impressão de que a Guerrilla Games pode não ter um roteirista decente, mas pelo menos sabe como brincar com expectativas do gênero e deixar o jogador respirar um pouco para absorver melhor o que está acontecendo.

Vencedor: Killzone 3

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GoldenEye 007 Reloaded (PS3)

Modos de jogo

Os jogos com maiores orçamentos, especialmente de tiro, geralmente são pacotes recheados no que diz respeito a modos incluídos. Há algumas omissões chatas aqui e ali, como a falta de multijogador local em tela dividida, mas a grande maioria deles tem pelo menos missões co-op, deathmatch (o popular mata-mata), deathmatch em equipes, capture-a-bandeira e controle de pontos-chave, além da campanha solo. Alguns, como Modern Warfare 3, têm seu próprio modo Horda (inspirado no de Gears of War). Outros, como Battlefield 3, têm modos como o Rush, em que uma equipe de ataque tenta explodir objetivos e “empurrar” a de defesa para outros pontos estratégicos do mapa. Mas nenhum deles se compara, em termos de variedade de modos, a GoldenEye 007 Reloaded. Já começa pela campanha solo mesmo, em que a segunda e a terceira dificuldades abrem novos objetivos e áreas nas fases, enquanto a quarta dificuldade, a 007 Classic, remove a regeneração automática. Após esgotar essas possibilidades – o que vai tomar literalmente dezenas de horas, já que a campanha normal dura pelo menos 12 – você ainda tem as missões especiais do Mi6, envolvendo stealth e time trials. É possível fazer diversos ajustes em cada uma, como permitir mortes apenas por headshot, para aumentar a sua pontuação e entrar em uma leaderboard. E ainda nem entramos no multijogador! Obviamente, o famoso modo local de tela dividida para quatro pessoas retorna. As fórmulas padrão já citadas aparecem em roupagens próprias, como Bomb Defuse, uma espécie de capture-a-bandeira em que só há uma bomba – que deve ser carregada e armada na área da outra equipe, é claro. Temos também modos clássicos do original do N64, como o Golden Gun: uma pistola que pode ser carregada apenas por um jogador de cada vez, mata com um tiro só não importa a distância e confere 5x o XP normal, mas precisa ser recarregada a cada tiro. Acha que acabou? Não, temos mais ainda: Escalation se assemelha ao modo de progressão de armas de Black Ops, em que kill streaks liberam armas progressivamente melhores e vence quem conseguir matar alguém com a mais forte, o lança-foguetes; Detonator Agent acrescenta um elemento de risco/recompensa ao colocar uma bomba-relógio na mão de um jogador, que precisa passá-la para outro na marra antes que ela exploda – e quanto menos tempo faltar pra ela explodir, mais pontos o jogador obterá por cada morte que conseguir; por fim, Heroes é um team deathmatch em que um dos jogadores de cada equipe é mais resistente e confere bônus aos companheiros próximos, mas por isso se torna um alvo mais valioso. Ufa! Acho que já deu pra perceber bem que, nesse quesito, a vitória é de goleada:

Vencedor: GoldenEye 007: Reloaded

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Conclusão

Paz e amorQuando a rivalidade entre Battlefield e Call of Duty vem à tona, por diversas vezes tenho visto jornalistas e jogadores em fóruns comentando algo do tipo “por que eu tenho que escolher? Não posso ficar com os dois”? Claro que pode. Paz e amor, bicho! (UGH.) Mas a questão principal na verdade não é essa. Quando se tem plena consciência de suas convicções, valores e, por que não, gostos, fazer escolhas é saudável e nos ajuda a reafirmar quem somos. O real problema desse embate é por que diabos eu tenho que escolher entre os dois. Não estamos falando de Fifa vs. Pro Evolution, PSN vs. LIVE ou Kinect vs. Move, em que não há opções reais (Pure Futbol não, né?) e/ou elas são fundamentalmente diferentes (como o Steam ou o Wii). No caso da “guerra dos FPS”, é interessante notar que ela esquentou justamente no ano em que tivemos uma enxurrada de FPS bons e variados, ao contrário do que vinha acontecendo. FPS que, muitas vezes, superam os dois “grandes” em aspectos específicos, mesmo quando não o fazem no pacote inteiro.

Devo - Freedom of ChoiceAo olhar para esse embate de dois gigantes cercados por anões mais ágeis, não consigo deixar de lembrar como a polarização funciona muito bem como recurso ideológico de manipulação. Um exemplo clássico é o discurso esquerdista brasileiro, em que ou você concorda com a retórica do partido, ou é “reacionário” e “da Zelite” (quem é essa mulher? Sempre quis saber…). Outro aconteceu nos anos 80, em que o Congresso americano decidiu votar se o país aplicaria sanções econômicas à Nicarágua ou se invadiria o país, e o debate entre as duas opções tomou a mídia de assalto… Sem que ninguém parasse para se perguntar porque diabos os EUA tinham que intervir na Nicarágua, para começo de conversa. Como diz a canção do Devo, “na Roma antiga/havia um poema/sobre um cachorro/que encontrou dois ossos/ele mexeu em um/e lambeu o outro/correu em círculos/e acabou morrendo”. Ou seja, a melhor maneira de manipular as pessoas é limitar artificialmente as suas escolhas. Voltando ao Devo, “Liberdade de escolha/é isso que você tem/ficar livre da escolha/é o que você quer”.

Vamos deixar a ilusão/indecisão de lado e olhar para o quadro geral. Não é nenhum segredo que eu prefiro Battlefield, e quem me lê já deve estar cansado de saber os motivos. O ponto é que, este ano, o discurso de que todo FPS é igual não se aplica mais. A grande maioria deles nos últimos dois anos se distanciou do modelo militar Call of Duty (claro, há exceções, como Medal of Honor e Homefront) e está buscando seu próprio nicho; porém, com toda essa fanfarra polarizante – que, é bom lembrar, serve muito bem às duas maiores publishers do mundo – muitos bons FPS não estão tendo a atenção que merecem, nem mesmo os mais high profile, como Crysis 2.

Generic FPSE não, isso não é culpa das publishers, do dinheiro de marketing, nem nada do gênero: é minha, sua e da maioria dos jogadores/jornalistas que se consideram “inteligentes” ou “diferenciados”. Nós é que repetimos os mesmos bordões e ideias pré-fabricadas sobre FPS que faziam sentido há 4 ou 5 anos, quando todo FPS de sucesso tinha que se passar na 2ª Guerra Mundial e os controles de jogos do gênero no PS2 eram bem menos precisos do que os de hoje. Enquanto nos repetimos, o mundo gira, a fila anda e as pessoas se conformam com a ideia de que FPS bom tem que ter guerra moderna, um soldado andando na capa e 356 cenas dignas de um filme do Michael Bay – em sequência ininterrupta. É lógico que as pessoas se conformaram; nem nós, nem os jornalistas nos damos ao trabalho de promover as alternativas, então não podemos esperar que justo o grande público perceba que há muito mais do que dois grandes blockbusters como opções.

Ou seja, nesse Fla x Flu em particular, quem sai perdendo é o esporte.

11 comentários sobre “Select: Battlefield 3 x Call of Duty: Modern Warfare 3

  1. Cara, eu já acompanhava seu blog faz tempo, desde q a Bebs te citou no GoW, mas, sinceridade, eu não me identifiquei tanto com um post seu como esse (nem a discussão “TV vs. Games” por causa do caso Realengo). Quase fui crucificado dia desses quando contei q passei mais tempo jogando Army of Two do q Gears of War (sério, nunca vi um coop como aquele! Só tou a fim de jogar Brink pq vc acaba de dizer q o coop é tão bom quanto.
    Ćomo todos, me empolguei valente com os trailers de ambos: fantásticos, quase cinematográfico! Mas nenhum bom motivo pra deixar de jogar meu Bulletstorm, ou gastar minhas economias para Crysis 2 e Vanquish em Mw3 ou BF3.
    Só não entendi a sua piadinha sobre a direção de arte previsível: uq Shinobi pra DS tem a ver com a historia? O.õ

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    • Fala!
      Só pra constar, Brink é muito *focado* no co-op, mas isso não quer dizer que o jogo seja ótimo. Ele tem uma série de probleminhas, desde o parkour não ser tão decisivo para a fluência do jogo como se imaginava até questões de textura, de gerenciamento de munição e “coice” das armas, além de que às vezes todo mundo parece esponja de bala. E na PSN quase nunca tem alguém jogando.
      E porra, Crysis e PRINCIPALMENTE Vanquish são experiências solo muito melhores do que os dois grandes. Vanquish é curto e não tem multijogador, mas isso é outro problema.
      Quanto ao lance do Shinobi DS, deve ter dado algum erro no redirecionamento do link, porque o alvo real é um texto sobre a caracterização de Londres no jogo com todos os estereótipos possíveis: bola de futebol, bandeira do Reino Unido em toda esquina, Big Ben visível de qualquer ponto, cabine telefônica vermelha, ônibus de dois andares etc. etc.

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      • Acabo de ver o link correto, e ri muito com a resenha. Nunca vi tanto estereotipo e clichê estranho de outro país desde “Lambada: A Dança Proibida”, super recomendo (NOT!)
        e eu já percebi o quanto ele é curto, e isso me brocha bastante: viajei valente na jogabulidade, mas dar 100 dilmas por um game de, sei lá, 10 não me agrada muito…

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  2. Ou seja, nesse Fla x Flu em particular, quem sai perdendo é o esporte.” —> Word. u_u

    Acontece isso com os jogos de suspense/horror também, né? Direto leio por aí que o gênero tá estagnado, que faltam bons jogos como “antigamente”, etc. Mas a realidade que eu vejo é um monte de alternativas, com as mais variadas propostas. Dead Island, Amnesia e Penumbra, Amy, Shadows of The Damned, The Darkness, Call of Cthulhu, Alan Wake, Manhunt, The Suffering, BioShock, Dead Space, FEAR… Isso citando apenas alguns dos nomes mais conhecidos. Mas o foco sempre está em Resident Evil VS Silent Hill. ¬¬

    Dá super pra traçar paralelos entre as duas franquias, claro, mas o povo tem mania de analisar RE e SH como se fossem a mesma coisa, já reparou?

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    • Verdade. Eu particularmente não gosto porque pra mim é como comparar Dostoievski com Paulo Coelho, ou filme hollywoodiano com Kubrick. Resident Evil é filme B, Silent Hill é filme “cabeça”; Resident Evil é susto, Silent Hill é clima, e assim por diante.

      E outro dia eu ouvi isso, da carência de survival horror… Mas a impressão é mais porque as duas grandes franquias, que um dia venderam 3 milhões de cópias, hoje não vendem tanto (salvo RE 5 e sua ênfase em mais ação). Mesmo Dead Space demorou para atingir esse número. Mas em variedade, quantidade e qualidade, talvez a situação esteja até melhor hoje. Silent Hill e FEAR lançaram seus melhores jogos nos últimos dois anos. Tem os citados Penumbra e Amnesia, que com certeza é o jogo mais tenso já feito (sim, mais que Dead Space); e todos os outros que você citou, quase sempre cruzando com outro gênero ou expectativa.

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      • Isso que me faz achar essa comparação descabida, também. E concordo muito com —> “em variedade, quantidade e qualidade, talvez a situação esteja até melhor hoje“. ^^

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  3. Eu tenho que admitir, ri bastante ao ver que nenhum dos dois realmente é bom em algum ponto. Depois disso tenho que admitir, Call of Duty ou Battlefield 3 não serão meu alvo no fim do ano.Sou mais jogar Assassin’s Creed Revelations com um possível Splinter Cell do que encarar as duas franquias “principais” de FPS nesse último ano. E sinceramente, espero que Crysis 2 ganhe o prêmio de melhor FPS do ano, apesar de saber que não irá ganhar. Ele é tão bom em tantos aspectos que merece mais que qualquer um dos dois. E tenho que dizer uma coisa, mesmo não jogando MW3, você parece o cara que jogou 100% do “novo” Call of Duty apenas por ter jogado os anteriores. E após o extremamente genérico MW2 que joguei e não gostei (nem campanha nem multiplayer) não tem nem porque chegar perto desse aí. Tirando tudo isso, comprei Forza 4, que é simplesmente o melhor jogo de corridas que já joguei. É muito bom, o autovista é incrível e o multiplayer é muito bem feito, apesar que jogar com americanos não é nada legal (nada contra o povo americano, mas parece que o pessoal que joga Forza é muito intolerante, eu sou bem barbeiro e por culpa de um acidente eu fui expulso de uma sala). Além de tudo isso, tem participação do Top Gear que sem hesitar é a melhor parte do jogo e o modo campanha bem feito. Ótimo jogo.

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    • A intenção era fazer rir. 🙂

      Mas vale dizer que, como o artigo tinha um ponto a apresentar, certas coisas ali são um pouco retorcidas para manter a piada/crítica. O caso mais notório é o de Brink; embora ele tenha sido escolhido no fator “cooperação”, é lógico que Battlefield 3 é melhor em absolutamente todo o resto e tem co-op no mesmo nível, por exemplo. F.3.A.R. pode ser um shooter criativo e sólido, mas não é *tão* sólido enquanto shooter quanto Call of Duty (que pode ser repetitivo e banal mas tecnicamente é quase perfeito).

      E o mais importante, note que não tem uma categoria “multijogador” e sim “(variedade de) modos de jogo” exatamente para poder colocar GoldenEye 007 à frente sem forçar a barra; embora eu *prefira* jogar o multiplayer dele do que de CoD, é difícil dizer objetivamente que GoldenEye é melhor nesse campo, especialmente pelo lag ocasional e pela taxa de quadros por segundo mais baixa, duas coisas essenciais em multijogador. E por aí vai.

      Mas daí, quem não gostou de MW e MW2 não tem mais o que fazer com Call of Duty mesmo, assim como quem jogou Battlefield 2 e/ou Bad Company 2 e não curtiu tanto não tem quase nada a ganhar com Battlefield 3. Isso é real. Eu tenho essa relação com CoD. Joguei MW no Wii e no PS3 e achei massa; joguei World of War no Wii e no PS3 e achei genérico; joguei MW2 no PS3, achei igual a MW e passei adiante após cansar do multijogador (que joguei por umas 10 horas se tanto); e já vacinado, só arrisquei Black Ops piratão no Wii e achei a campanha a pior história de um FPS que já vi. Então chega, dorgas tô fora 🙂

      Se você acha que Crysis 2 não vai ganhar em FPS do ano em lugar algum (eu também o acho bem melhor que MW3 e BF3), imagina GoldenEye 007: Reloaded, que talvez seja o meu FPS do ano, ou Resistance 3 e Rage, outros que se ganhassem eu acharia merecido também…

      Forza 4 eu bem queria, mas ainda estou com a impressão de que o jogo não é tão diferente de Forza 3 para pular direto nele sem ter ido longe no anterior (e Forza 3 já era um jogaço). Nesse ponto eu quase me arrependo de ter pego Forza 3 a seis meses do lançamento de Forza 4. Peguei porque tinha caído para R$ 99 e pensei “bom, o 4 vai chegar a R$ 199 e a esse preço eu não compro nenhum jogo de corrida, nem mesmo num novo Burnout”. E aí BAM, sai Forza 4 a R$ 129. Coisas da vida. Ano que vem ele entra em alguma promoção e aí eu pego.

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